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Melaço
01:06
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#001 • MELAÇO
As abelhas polinizam flores no seu suor
e o amor é cantado, no rádio de pilha, em plena praça pública:
"eu vi o sol, vi a lua clarear
eu vi meu bem dentro do canavial."
Do braço, o travesseiro
tecer renda no cabelo.
Hoje, sonhei você voltava
com a sede no bico do peito.
Com amanhã, já são dois dias
e a saliva, ainda fresca,
brinca na ponta do dedo.
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2. |
Punhal de Prata
01:29
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#002 • PUNHAL DE PRATA
Carecemos, sempre, de revistar o espelho
e notar da complexidade de compor,
dos cacos, um novo mosaico,
– fragmento do ancestral.
A imagem da santa é preta
e o pano é da costa,
pela discordância é babau.
O carinho do barbante
de quem se estica nas pontas,
enquanto meu olho caça,
o outro descansa.
volta-de-mundo, volta-de-mundo,
quem girou, torna a girar:
arredio, espreita o tempo.
– Incêndio no canavial.
Circunda a caça
e não teme.
Meu punhal de prata,
refletido, alumeia,
vagando por entre clarões,
debaixo da lua cheia.
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3. |
Roda
01:22
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#003 • RODA
No pingo da meia-noite
gunga entoa no vento:
"valha-me Deus, Senhor São Bento,
buraco velho tem cobra dentro..."
Vai amolando pedra,
em tensão, afiando dente
Na cumeeira da serra,
– no pé do ouvido, um bafo quente,
inesperado rabo-de-arraia
e o sorriso mais estridente.
Canina amarela
em um bote de serpente.
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4. |
Onça
01:20
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#004 • ONÇA
Posso morrer nessa janela,
fitando os olhos da onça.
De quem me olha
e pede à noite, o riso.
Findas as presas,
e cede a pele ao risco.
Graciosa,
lambe o cangote do destino.
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5. |
Espelho Enterrado
01:55
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#005 • ESPELHO ENTERRADO
Vertigens dos trópicos e a febril América Latina.
Mariposas dos sonhos cintilam ao redor do candeeiro
à procura de calor.
Corpos mestiços, terra sangrada.
Rastos de meu avô Guarani
– Espelho enterrado, empoeirado, um retrato 3x4.
Ao fundo, uma Gameleira-branca alteia o vestido de minha avó.
E o Paraguai nunca esteve tão perto das mãos
– ou, talvez, tão longe.
A mão que me afaga a pele:
"duerme, duerme, negrito
que tu mamá está en el campo"
Galgada a fronteira, o chão borbulha, meu corpo ferve.
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